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Platão e Aristóteles. Afresco "A Escola de Atenas" do pintor italiano, da Renascença, Rafael Sanzio de Urbino. [WIKIPÉDIA]. |
Aristóteles nasceu em Estagira (Macedônia) em 384 a.C.
e morreu em Cálcis, na Ilha de Eubea, em 324 a.C. Durante 20 anos, entre 367 e
347 a.C. foi discípulo de Platão (427-347 a.C.), na Academia.
Por volta de 342 a.C. foi-lhe confiada a educação de
Alexandre (356-323 a.C.), filho de Filipe II (382-336 a.C.), rei da Macedônia,
missão que o nosso pensador cumpriu até 335 a.C. Nesse ano Aristóteles fundou,
em Atenas, no Liceu, a sua própria escola, chamada de peripatética e nela desenvolveu a docência da filosofia e das
ciências até 323 a.C., quando se retirou
à ilha de Eubea (terra da sua mãe), no Mar Egeu.
Os escritos do filósofo que conhecemos, na sua maior
parte estão constituídos pelas notas de aula tomadas pelos seus discípulos, nos
cursos que ofereceu no Liceu. Esses escritos eram chamados, pelo próprio
Aristóteles, de esotéricos.
Diferentemente de Platão, que escreveu a sua obra no elegante dialeto ático,
Aristóteles utilizou a língua comum, a koiné (ou grego vulgar), que se estendeu
como língua franca ao longo da bacia do Mediterrâneo, e que deu ensejo à grande
globalização cultural do Império de Alexandre.
Em 7 itens podemos sintetizar o essencial do
pensamento de Aristóteles:
1 - Com
Aristóteles encontramos um sistema filosófico completo. A sua obra pode ser agrupada
em cinco grandes blocos, assim:
I – Lógica,
que abrange seis obras, genericamente denominadas de Organon: Categorias, Da
Interpretação, Primeiros Analíticos, Segundos Analíticos, Tópicos e Refutação
dos Sofistas.
II – Escritos
Científicos, integrados por quatro obras: Física, De Anima, Partes dos Animais e Astronomia.
III – Metafísica,
que inclui os quatro livros que levam esse título.
IV – Ética,
com as seguintes obras: Ética a Nicômaco,
Ética a Eudemo, Magna Ética, Política e Constituição de Atenas.
V – Poética,
que abrange dois escritos: Retórica
(8 livros) e Poética.
2 – No conjunto
de obras que integram o Organon,
notadamente nos Analíticos e nos Tópicos, Aristóteles formula a sua
Lógica Formal,
que estuda os esquemas de raciocínios válidos, independentemente do conteúdo
dos mesmos. A Lógica Aristotélica foi aperfeiçoada, posteriormente, por Boécio
(480-524) e por Pedro Hispano
(1205-1277). A Lógica Formal de Aristóteles foi recebida, na tradição medieval,
como parte da Filosofia e se denominava “logica
minor”, sendo que a “logica maior”
correspondia à Teoria do Conhecimento.
A Lógica Formal somente se começou a distanciar da
Filosofia no século XVII, quando Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) formulou
a sua Ars Combinatoria, que deitou os alicerces da Lógica Matemática,
a partir do princípio de que seria possível substituir os conceitos, nos
raciocínios, por símbolos matemáticos. Com essa base, Leibniz pretendia evitar
as disputas sobre conceitos com significação equívoca, atribuindo, a cada um
deles, uma significação exata, expressa em símbolos matemáticos.
As hipóteses de Leibniz foram aperfeiçoadas, do ângulo
matemático, por George Boole (1815-1864), na obra intitulada: Uma
interpretação das leis do pensamento em que se fundamentam as teorias
matemáticas da Lógica e das Probabilidades (1857). Esta obra deu ensejo
à denominada álgebra booleana, ou conjunto de técnicas algébricas para lidar
com expressões no cálculo proposicional. Com base nesse fundamento, a
Lógica Matemática foi sistematizada, no século XX, por Bertrand Russell
(1872-1970) e Alfred North Whitehead (1861-1947), na obra: Principia Mathematica (1913).
Mais adiante, na metade do século XX, foi formulada a Lógica dos Circuitos pelo
engenheiro norte-americano Claude Shannon (1916-2001), com a obra intitulada: A
mathematical Theory of Communication (1948), na qual os símbolos
matemáticos são substituídos pela Lógica Binária (passível de ser traduzida em
impulsos eletrônicos). Essa é a base da linguagem e da memória artificial
utilizadas nos hodiernos computadores.
Como se pode observar, longa foi a caminhada da Lógica
Formal até as manifestações contemporâneas dessa especialidade que, sem Aristóteles,
certamente não teria chegado até os magníficos resultados que apresenta, hoje,
como disciplina autônoma no terreno das ciências.
3 - Na Teoria do
Conhecimento, Aristóteles partiu para elaborar um ponto de vista transcendente
ou realista, como tinha feito o seu mestre Platão. No entanto, o cerne da
gnosiologia aristotélica não é constituído, como em Platão, pela hipótese de
Idéias subsistentes e independentes do mundo. Para Aristóteles, o fundamental é
o conhecimento da realidade que nos circunda, e é aí que ele coloca a sua noção
do substância primeira (prote ousia), que é definida como aquilo que é em si e não em outro. As substâncias externas, objeto
da nossa experiência sensível, são as substâncias
primeiras. Elas são formadas por matéria (hyle) e forma (morfé). A forma das realidades substanciais conhecidas
pelos sentidos movimenta a razão humana, que se encontrava em potência (intellectus patiens, segundo a
terminologia escolástica). Ativada pela forma substancial, a razão fica em estado de ato (intellectus agens) e se torna capaz de
agir, elaborando representações das formas substanciais intuídas na
experiência. A partir da intuição, pela razão, da essência da substância
concreta (ou seja, da sua forma), é
elaborada uma representação abstrata da mesma, que o Estagirita denomina de substância segunda (deutere ousía) denominada também de conceito universal, e que consiste numa representação abstrata da substância primeira. O processo do
conhecimento se completa mediante a predicação, pela razão, no juízo, em
relação a uma substância primeira, da substância segunda, abstrata, que lhe é
correspondente. Quando digo, por exemplo, “isso é um cachorro”, estou
predicando a representação abstrata que repousa na minha razão, de um ente
concreto que está diante de mim, o animal de quatro patas que eu chamo de “cachorro”.
Aristóteles valoriza a experiência (ampeiría). Para ele, todos os nossos
conhecimentos provêm dos sentidos. Os escolásticos sintetizaram esse princípio
aristotélico da seguinte forma: “nihil
est in intellectu quod prius non fuerit in sensu”. Para o Estagirita, há
cinco tipos de conhecimento, todos eles interligados, começando pelos sentidos
e subindo até intelecção. Temos, em primeiro lugar, o conhecimento sensorial (aísthesis) em segundo lugar, o
conhecimento empírico propriamente dito (empeiria); em terceiro lugar, vem o
conhecimento técnico (téchne) em quarto
lugar, temos o conhecimento científico, pelas suas causas, das substâncias
ocultas atrás dos fenômenos (epistéme)
e, em quinto lugar, o conhecimento das totalidades à luz do ser (sofía).
A nossa razão atua como ordenadora dos fenômenos
dispersos, mediante a intuição das essências substanciais das coisas que
aparecem na experiência sensorial. Aristóteles valoriza o conhecimento das
coisas da natureza pelas suas causas, bem como a classificação dos seres a
partir da experiência, sendo que a Lógica fornece os instrumentos conceituais
necessários para essa ação ordenadora. Dentre os conceitos que a Lógica
oferece, sobressaem os de gênero e diferença específica. É possível fixar
conceitualmente as características essenciais de uma determinada realidade,
mediante a explicitação do gênero próximo
ao qual ela pertence, adicionando a diferença
específica, que é a responsável pela sua identidade, no contexto do gênero.
Assim, por exemplo, a essência humana consistiria de duas notas: animal (gênero próximo) e racional (diferença específica).
Utilizando esse mecanismo, Aristóteles realizou amplo trabalho de classificação
dos seres vivos, dando início à taxonomia.
No que tange ao conceito de verdade, o Estagirita
distingue dois tipos: verdades categóricas
(aquelas referidas às substâncias que, no Cosmo, têm regularidade nas suas
ações, o que os Gregos, de modo geral, denominavam de tropos) e verdades dialéticas (aquelas referidas
ao comportamento humano, não totalmente previsível porquanto ancorado na
liberdade de escolha, e que os pensadores gregos denominavam de anthrópos). Uma coisa é verdadeira
quando, no juízo, afirmamos, de uma substância primeira, o conceito universal
(ou substância segunda) que lhe corresponde. Assim, por exemplo, quando digo: “este
animal é um cachorro”, a minha assertiva é verdadeira se, efetivamente, a
essência do bicho que estou vendo é a de cachorro. Conseqüentemente, incorro em
falsidade quando afirmo de uma substância primeira a substância segunda (ou o
conceito universal) que não lhe corresponde (como quando digo de um cachorro
que é gato).
4 – A Psicologia ou Tratado da Alma complementa a Teoria do Conhecimento de
Aristóteles. O
Estagirita distingue três partes da Alma, que remetem a três estratos da
Natureza: a Alma Vegetativa ou Alma das Plantas; a Alma Sensível ou Alma dos
Animais e, finalmente, a Razão,
que somente se encontra no homem.
Alma Vegetativa é responsável pela
subsistência; a Alma Animal é
responsável pela sensação e o movimento local e a Razão (nous) é responsável
pela atividade intelectual. A Alma é
o princípio formal de todo corpo. A respeito, frisa Aristóteles: “Assim,
também, a alma é a entelequia primeira
de um corpo natural que possui a vida em potência; tal é o caso do corpo
organizado”.
Ao Espírito
corresponde um estatuto particular: podemos subdividi-lo em Espírito Sensitivo (receptivo) e em Espírito Agente (ativo), um
desempenhando a função de matéria (potencialidade) e o outro a função de forma
(atualidade). O Espírito Sensitivo (que
está em relação com as percepções da segunda parte da alma) recebe os objetos
do pensamento segundo a forma, enquanto que o Espírito Agente representa o espírito todo-poderoso para a
atividade da alma espiritual.
Ao contrário das outras partes da alma, o Espírito Agente não está ligado ao corpo
e é, assim, imortal. Mas, como o pensamento não pode nascer senão da relação
com a sensação, o Espírito, após a
morte, não é mais um Espírito Individual (diferentemente
do que Platão defende com a sua teoria da alma).
5 – A Teoria do
Conhecimento em Aristóteles ancora na Metafísica. A ordem do conhecimento segue
a ordem do ser. Neste aspecto, o Estagirita mantém-se fiel à herança platônica.
Aristóteles, no entanto, pensa o Ser não como alicerçado num Sumo Bem distante
do mundo, mas como o fundamento de tudo quanto existe. O Cosmo e o Homem estão
presentes no Ser. Não há, portanto, um mundo separado de Idéias Eternas.
O Ser é partilhado pelos entes, mas eles não o
esgotam. Aristóteles partiu, na sua Metafísica, para fundamentar as
relações entre o Ser e os entes, mediante a sua doutrina da potência e do ato. Todos os seres do Cosmo, o homem inclusive, partilham
limitadamente do Ser, pois são compostos de potência
e ato.
6 – A dinâmica
da Natureza, a partir dos conceitos de Matéria e Forma. Nos livros da Física,
Aristóteles mostra que o Cosmo foi formado a partir de uma matéria primeira (próte hyle) que constituiu os quatro
elementos (terra, água, fogo e ar) de que estão compostos todos os corpos.
Potência e Ato, nesta dimensão que constitui a Natureza (fysis) relacionam-se como matéria (hyle) e forma (morfé). Estes
conceitos integram a denominada Teoria
hilemórfica.
O Estagirita desenvolveu a sua teoria da causalidade, para explicar as relações entre os corpos no
seio da Natureza. Quatro são as causas: material,
formal, eficiente e final. Elas
pressupõem a substância, onde se dá a sua dinâmica. Aristóteles reconhecia dois
modos de ser ou categorias: ser em si (substância ou usia) e ser em outro (acidente). O ser
em outro se pode dar de nove formas diferentes (que os escolásticos
passaram a denominar com as seguintes expressões latinas: quantitas, qualitas, relatio, actio, passio, quando, ubi, situs e habitus). Na sua teoria da causalidade,
Aristóteles dá destaque à causa eficiente
e formula o princípio segundo o qual “tudo que se movimenta é movido por
outro”, o que o leva a postular a existência do “motor imóvel”, causa primeira
do movimento do Cosmo.
No seu tratado da Física, no livro II, o Estagirita
oferece quatro definições acerca da Natureza: ela é “Princípio e causa de
movimento e de repouso, para a coisa em que ela reside imediatamente e não por
acidente”. A Natureza é, também, “A matéria que serve de sujeito imediato a
cada uma das coisas que possuem em si um princípio de mudança e movimento”. O
Filósofo ainda traz esta definição de Natureza: “Nas coisas que possuem em si
um princípio de movimento, (ela) é a forma
e o tipo separáveis só logicamente”.
Sintetizando, a Natureza é, para Aristóteles, princípio de movimento e de crescimento.
Um detalhe etimológico deve ser salientado: fysis
(natureza) vem do verbo fyo (crescer).
A quarta definição de Natureza é, segundo Aristóteles, a seguinte: “Sendo a
natureza dupla, matéria de um lado e forma, de outro, e sendo ela um fim, e
estando as demais (coisas) ordenadas a esse fim, ela será uma causa, a causa
final”. A Física de Aristóteles é, conseqüentemente, uma física finalista, na
qual é essencial a experiência, a fim de abarcar o conjunto de aspectos que
rodeiam a Natureza.
Um outro conceito que, na Física, é importante para
Aristóteles, é o de movimento. O Estagirita o define como surgimento, mudança, progresso ou degradação. O movimento, enquanto mudança de um ser vivo, é
denominado de metabole, enquanto que entendido como mudança de lugar é
denominado de kinesis. Existem, para o Estagirita, dois tipos de movimento: substancial, que recai sobre a
substância e consiste na geração (genesis) ou na corrupção (fzora). O segundo tipo de movimento
é o acidental, que não modifica essencialmente a substância, atingindo apenas
algumas qualidades acidentais, tais como: crescimento
e diminuição, alteração e translação.
7 - A ética
aristotélica tem por objetivo o domínio da ação humana, em tanto que alicerçada
numa decisão e a política é o terreno da sua aplicação social. Distingue-se a ética da filosofia teorética, que se dirige ao
imutável e eterno.
Por natureza, segundo Aristóteles, todo ser tende a um
bem que lhe é próprio e no qual encontrará a sua realização. O bem humano é a
atividade da alma conforme à razão. Nessa atividade, o homem descobre a
felicidade (eudemonía), que é
independente das circunstâncias exteriores, como objetivo final das suas
aspirações. Como frisa Aristóteles na sua Ética a Nicômaco, “O bem do homem
consiste numa atividade da alma conforme à virtude”.
Aristóteles distingue entre virtudes dianoéticas (que se manifestam no exercício da razão) e virtudes éticas (que são transmitidas
pela ordem estabelecida na sociedade e na Polis) sendo que elas recebem a sua
validade da tradição e do consentimento universal. A virtude dianoética fundamental é a prudência (frónesis) que leva o homem a reconhecer os meios e os caminhos
justos que conduzem ao bem. À luz dessa virtude o homem desenvolve a atitude ética, que se formata mediante a
prática das virtudes (através do exercício,
o hábito e a aprendizagem).
No que tange ao conteúdo, a virtude ética é definida
como o justo meio (mesotés) entre dois extremos contrários.
Assim, por exemplo: a coragem ocupa o
lugar intermediário entre a covardia
e a temeridade. A moderação é um intermédio entre a apatia e a excessiva vontade e a generosidade
é o equilíbrio entre a avarícia e a prodigalidade.
A justiça (dikaiosúne) para Aristóteles, é a virtude
mais importante para a vida em comum. Em tanto que distributiva, ela cuida de distribuir os bens justamente; em tanto
que corretiva, ela compensa os danos
ou os prejuízos sofridos por alguém. Uma virtude essencial é, também, a amizade. Graças a ela, o homem
experimenta a passagem dos interesses individuais àqueles que constituem a
comunidade.
A ética aristotélica, contrariamente à platônica, é
uma moral concreta da liberdade e da diferença entre os homens da cidade. Ela
define um espaço de discussão, que deve permitir chegar a um bem soberano, que
não é transcendente (como em Platão), nem imposto desde cima por algum sábio. O
bem soberano aristotélico nasce exclusivamente do contato entre os homens
livres.
No que tange à ordem política, diferentemente de
Platão (que privilegiava o modelo aristocrático), ela é variada, para
Aristóteles, podendo ser de três tipos: realeza
(cuja degeneração é a tirania), aristocracia
(cuja corrupção é a oligarquia) e politéia
ou governo do povo, (cuja degeneração é constituída pela democracia).
Contrariamente a Platão, que no relativo ao conhecimento racional da realidade
política dava prelação à Idéia sobre os conhecimentos empíricos, Aristóteles
privilegia estes últimos. Nesse terreno, o filósofo de Estagira realizou
estudos comparados, tendo chegado a identificar 158 formas de organização ou de
constituição política. Desses estudos somente nos restou o escrito intitulado Constituição
de Atenas.
Platão concebia uma visão ideal da política, ao passo que Aristóteles concebe uma idéia possível. Ele é partidário de um
realismo político. Na obra Política, frisa o estagirita:
“Deve-se, efetivamente, examinar não somente o melhor regime político, mas
também aquele que é simplesmente possível”. Contrariamente a Platão, para quem
os homens ingressavam no Estado em decorrência das suas fraquezas, Aristóteles
considera que os homens procuram a ordem política movidos pela sua natureza
sociável. A respeito, escreve: “O homem é por natureza um animal político”.
A linguagem é um signo de que o homem não está
destinado unicamente à simples sobrevivência, mas a viver numa comunidade que deve chegar a acordos
acerca do útil, do bom e do justo. Como Platão,
Aristóteles considera que a tarefa do Estado consiste em possibilitar a
realização ética dos cidadãos. No entanto, enquanto o mestre de Aristóteles
considerava que a questão ética consistia em partir para um processo de
catarse, a fim de o homem voltar à contemplação pura das Idéias no reino do
Sumo Bem, para o Estagirita essa realização consiste em algo muito mais singelo
e terreno: o amor da vida feliz e boa. É somente no seio do Estado que se pode
desenvolver perfeitamente a virtude do indivíduo.
O Estado, para Aristóteles, se forma a partir de um
conjunto de comunidades que vão se alargando. A propósito, frisa: “Na origem,
existe a comunidade de duas pessoas (homem e mulher, pai e filho, amo e servo).
Estes, juntos, constituem a família,
a partir da qual, a seguir, constitui-se a aldeia
e por fim a cidade (pólis) que é o reagrupamento de várias
aldeias”. É somente a partir da cidade que é garantida a autarquia (ou seja, o fato de se garantir, a si próprio, a
independência e a autossuficiência).
O princípio formal da pólis para Aristóteles, é a constituição.
A respeito, frisa Aristóteles: “A cidade é uma espécie de comunidade e uma
participação comum dos cidadãos no governo”. O filósofo divide as formas de constituição em três “tipos justos” (realeza, aristocracia, politéia).
O critério de classificação é o número dos que participam do poder político: um, alguns, todos.
É boa a forma de governo que serve ao bem-estar geral;
é ruim aquela que somente persegue os interesses dos que mandam. Aristóteles,
não prefere, de entrada, uma das três formas de organização da pólis mencionadas. Considera, contudo,
que a mais realizável e a mais estável é a politéia
ou democracia moderada). É uma forma que mistura as vantagens das outras
constituições e que realiza o princípio formulado na Ética, da virtude como
justo meio entre os extremos. A propósito, Aristóteles escreve: “A melhor
comunidade política é aquela que constitui a classe média
(...). O seu predomínio restabelece o equilíbrio da balança e impede a aparição
dos excessos contrários”. Da análise histórica Aristóteles conclui que a melhor
forma política, em cada caso, é aquela que melhor convém ao país e às
necessidades dos cidadãos.
Em relação à questão da ordem interior do Estado,
Aristóteles considera que é necessário preservar a família e a propriedade privada.
Segundo Aristóteles, a família é ainda mais elementar que a aldeia e esta é
mais elementar que o Estado ou a pólis.
A família deve ser privilegiada em tanto que base da ordem natural da sociedade,
mesmo se o Estado joga um papel essencial na educação da juventude. Em relação
à propriedade privada, Aristóteles considera que “a propriedade deve ser
privada, mas o seu uso deve ser comum”.
Nestes aspectos, certamente, o Estagirita se distancia dos ensinamentos do seu
mestre Platão.
No que tange à estrutura interna da sociedade,
Aristóteles reconhece, além da escravatura, a desigualdade natural entre homens
e mulheres. Tanto uma quanto outra são “condições naturais” da vida humana.
Mas, entre os homens livres, deve reinar a igualdade.