sexta-feira, 21 de agosto de 2015

LEITURA 2ª - MITO E LOGOS E AS ORIGENS DO PENSAMENTO RACIONAL

Gruta de Chauvet na França - As imagens míticas, com 35 mil anos de idade, antecipam o pensamento racional na imaginação da espécie Sapiens Sapiens.

O mito pode ser definido como uma explicação do atual por um acontecimento primordial que está sempre presente, havendo um liame, através do rito, entre o atual e o primordial.

Em decorrência do fato de o mito se referir a um acontecimento primordial para explicar o atual, situa-se num espaço e num tempo sagrados, que conferem validade ao espaço e tempo profanos, constitutivos da cotidianidade. Dessa forma, o mito pressupõe uma dimensão vertical, que se ergue por sobre a horizontalidade dos fatos humanos. O mito explica o tempo e o espaço cotidianos pelo espaço e tempo sagrados. Daí que na linguagem mítica os relatos comecem, geralmente, com a seguinte expressão: “Naquele tempo...”, (“in illo tempore...”).

O mito é um modelo. É o ponto de referência de toda atividade e de toda eficácia. PeO mito pode ser definido como uma explicação do atual por um acontecimento primordial que está sempre presente, havendo um liame, através do rito, entre o atual e o primordial.

Em decorrência do fato de o mito se referir a um acontecimento primordial para explicar o atual, situa-se num espaço e num tempo sagrados, que conferem validade ao espaço e tempo profanos, constitutivos da cotidianidade. Dessa forma, o mito pressupõe uma dimensão vertical, que se ergue por sobre a horizontalidade dos fatos humanos. O mito explica o tempo e o espaço cotidianos pelo espaço e tempo sagrados. Daí que na linguagem mítica os relatos comecem, geralmente, com a seguinte expressão: “Naquele tempo...”, (“in illo tempore...”).

O mito é um modelo. É o ponto de referência de toda atividade e de toda eficácia. Pelo fato de o mito, através do rito, estabelecer um liame entre o atual e o primordial, possui uma dimensão mágica, ou seja, produz resultados. O rito não é apenas uma encenação, uma repetição. É uma ação eficaz. Produz resultados, como dizem os teólogos “ex opere operato”, ou seja, imediatamente. As mesmas palavras que moldaram o Universo são utilizadas nos ritos de fecundidade. Os ritos de orientação repetem essa mesma dinâmica, ou seja, trazem para a cotidianidade humana os atos arquetípicos de fundação do mundo e de estabelecimento dos pontos cardeais. O mundo é considerado como emergindo de um caos e de um espaço não organizado. Os ritos que lembram a fundação da cidade (como, por exemplo, os que se referiam à fundação de Roma), referem-se, analogamente, à formação do cosmo. A cidade é um microcosmo, imita o mundo.

Precisamos distinguir dois tipos de mito: cosmogônicos e de origem. Os primeiros referem-se à organização primeira do Universo. Os segundos tentam explicar o início de uma instituição ou de um costume. Exemplo dos primeiros é o poema mesopotâmico Enuma Elish, que relata a formação do mundo, a partir das águas primordiais. Exemplo dos segundos é o mito da fundação de Roma por Rômulo e Remo, depois de terem sido salvos e amamentados por uma loba.

Centremos a atenção nos mitos cosmogônicos. Em que pese a sua diversidade, encontramos neles uma estrutura semelhante: são triâdicos. Do ponto de partida unitário e original, emergem dois princípios que se contrapõem, sendo um deles masculino e ativo e o outro feminino e passivo. A contraposição desses elementos secundários repete-se em todos os seres do cosmo, sendo que todos eles tendem à busca da unidade perdida. 

Na cultura indiana encontramos três relatos cosmogônicos desse feitio. Na tradição dos Vedas, por exemplo, tudo provém de Purusha (o homem côsmico), de onde emergem o Céu e a Terra, a partir dos quais se formam todos os seres. Na tradição dos Brâmanes, por sua vez, tudo decorre de um princípio único, as Águas Primordiais, de onde surgem o Ovo Côsmico e Prajápati, sendo que desses dois elementos é feito o mundo. Já na tradição dos Upanishads encontramos uma origem de tudo, Rajas (elemento ativo), de onde provém Sattva (elemento luminoso) e Tamas (elemento escuro), princípios a partir dos quais se forma o cosmo.

Na cultura chinesa encontramos uma unidade originária, Pan-Kou ou Pan-Gou (o homem primordial), de onde surgem Yang (princípio ativo e masculino) e Yin (princípio passivo e feminino), a partir dos quais se forma o mundo, sendo que em todos os seres há um princípio ativo e um princípio passivo. Uma estrutura mítica semelhante encontramos na cultura mesopotâmica, no relato do Enuma Elish (que era recitado pelos sacerdotes no Ano Novo) e segundo o qual tudo provém de uma origem única, Apson (as águas primordiais), de onde surgiram dois princípios contrapostos, Marduk (a luz) e Tiamat (as trevas), que travam um combate no qual Marduk vence Tiamat e o divide em dois, formando com uma metade a abóbada celeste e com a outra a terra. Essa estrutura mitológica foi o quadro de referência do mito da criação que aparece no livro do Gênese, na Bíblia judaico-cristã, no relato cunhado à luz da Tradição Sacerdotal, que recolheu a influência mesopotâmica durante o Cativeiro da Babilônia. Efetivamente, nessa narrativa bíblica o Caos primordial antecede a tudo, sendo que o Ruaj de Elohim (o sopro de Deus) paira sobre o Abismo e o organiza, criando em primeiro lugar a luz, colocando a seguir no cosmo astros e estrelas, separando logo as águas inferiores das superiores, fazendo surgir das águas inferiores a terra e colocando nela, por último, pedras, vegetais, animais e homens. No livro do Gênese, aliás, encontramos um relato da criação do cosmo mais arcaico do que o mencionado: trata-se da narrativa configurada à luz da Tradição Yahvista, segundo a qual do Lodo primordial Yahvé formou o homem, soprando no seu nariz o seu Sopro de Vida e fazendo-o, assim, à sua imagem e semelhança. 

Na cultura grega encontramos, por sua vez, uma origem primordial de tudo, o Caos, de onde surgem o Céu (Uranos), princípio ativo, luminoso e masculino, e a Terra (Gaia), princípio passivo, escuro e feminino. Ora, a partir de Uranos e Gaia forma-se primeiro o cosmo e depois o homem. Da luta entre Uranos e Gaia surge uma primeira geração de figuras mitológicas monstruosas (Titãs, Ciclopes e Hecatôngiros), que simbolizam as forças cegas da natureza. O homem é formado a partir da união entre Chronos (um dos Titãs, portanto filho de Uranos) e Rhea, filha do Caos. A vida humana é simbolizada como uma luta que o homem deve travar entre a consciência (representada por Zeus) e as tendências instintivas e inconscientes (simbolizadas nos irmãos de Zeus: Poseidon – satisfação perversa do desejo -, Hades – inibição perversa do desejo -, Hestia – pureza que despreza a libido -, Demeter – instinto da fecundidade – e Hera – símbolo do amor e da libido -). 

O relato mítico grego foi legado à posteridade através da obra de Hesíodo intitulada A Teogonia. A natureza é apresentada ali como manifestação progressiva dela mesma, através de uma série de etapas. Trata-se de uma revelação com caráter óntico, porquanto a natureza se revela em várias ordens de ser. Mas, de outro lado, há certa organicidade nesse se revelar a natureza, pois cada grau dela está implicado no anterior. 

A respeito, frisa Jean Ladrière comentando os aspectos fundamentais do mito cosmogônico grego: “Há um sentido ontológico, pois essa sucessão de níveis deve ser interpretada como um encaixar os fundamentos. Cada etapa, efetivamente, permanece no interior das etapas ulteriores. O que significa que cada dobra da realidade continua exercendo a sua virtude no interior das dobras subsequentes. Isso significa, ainda, de um ponto de vista mais abstrato, que cada uma dessas dobras da realidade representa verdadeiramente uma condição da realidade global. A sucessão significa que cada etapa permanece presente no interior das seguintes, que cada etapa é condição para as ulteriores. Temos, assim, um encadeamento de condições, ou ainda um encadeamento de fundamentos. De outro lado, todo esse processo se origina no Caos. Este não é uma simples desordem, nem uma mistura primordial. É, pelo contrário, o pano de fundo em que tudo aparece. É a unidade que abarca e sustenta tudo. Além disso, a formação do mundo é explicada por uma oposição de princípios contrários. Temos um princípio ativo e um princípio passivo, um princípio celeste e um princípio terrestre. O Céu é o espaço concebido como receptáculo universal. Ao mesmo tempo, é o elemento luminoso, formador, legislador, o elemento que é princípio de ordem. A Terra ou Gaia, de outro lado, é uma potência de desordem, é um princípio de opacidade, é aquilo que opõe resistência à difusão da forma, é o que em virtude dessa resistência explica a limitação e a divisão. A união do Céu e da Terra enseja o processo gerador. Dessa forma, o movimento fundamental da realidade é o encontro dos dois elementos, Terra e Céu. Esse encontro é ao mesmo tempo luta, oposição e complementariedade” [Ladrière, 1967].

O mérito dos pré-socráticos consistiu em terem traduzido as imagens do mito cosmogônico grego em conceitos. Mas essa tradução não foi instantânea. Primeiro começaram a falar em elementos de que tudo se constituía. Uns enfatizam a água, outros o fogo, outros a terra, outros o ar. Mas o que lhes interessa é ir traduzindo as imagens em algo que não deixa de ser imagem, mas que, ao mesmo tempo, diz algo mais. Quando Tales de Mileto, por exemplo, diz que o constitutivo de tudo á água, não se refere exclusivamente ao elemento físico, mas quer se remontar até o princípio de onde tudo provém. É por isso que Nietzsche considera que Tales é o primeiro metafísico, porque buscava enxergar a origem última dos seres, aquilo que seria a conditio sine qua non de tudo. Embora fosse também um físico, preocupado com a análise experimental dos elementos.

Mas é no mito onde a metafísica grega, já mais evoluída após o ciclo pré-socrático, vai encontrar a inspiração para a estrutura conceitual com que tenta representar a realidade. A imagem do Caos será substituída na metafísica aristotélica pelo conceito de Ser, ao passo que Uranos será traduzido como Ato e Gaia como Potência. Temos, assim, os elementos fundantes da metafísica da potência e do ato, que servirá de base conceitual à filosofia ocidental até o início do período moderno.

Augusto Comte tinha formulado a Lei dos Três Estados, segundo a qual a razão humana percorre três etapas ao longo da sua evolução, tanto do ponto de vista da ontogênese (nos indivíduos), como da filogênese (na espécie). Ora, segundo esse postulado, tanto o homem individual quanto a espécie humana primeiro representaram e explicaram o mundo teologicamente ou seja em imagens míticas, e somente depois foram capazes de pensar de maneira filosófica ou metafisicamente, para, por último e como fruto da evolução progressiva da razão, chegarem a elaborar explicações positivas ou científicas, que constituiriam a mais perfeita e definitiva forma de conhecimento, que dispensaria as outras duas.

A explicação de Comte tem uma parte verdadeira e outra falsa. A verdadeira consiste em ter reconhecido três formas de conhecimento intimamente ligadas entre si, a mítica, a metafísica e a científica. A parte falsa consiste em ter formulado essas três modalidades como se excluindo temporalmente, pensando que a metafísica excluiria o mito e que a ciência excluiria as outras formas de conhecimento que lhe possibilitaram o surgimento. Trata-se, pois, de recuperar a validade da teoria comteana, inserindo as três formas de conhecimento num quadro de complementariedade. Afinal mito, metafísica e ciência, são três formas de conhecimento que se completam, se pressupõem e não podem se invalidar mutuamente. Cada uma delas fornece um tipo de conhecimento qualitativamente diferente. Mesmo que dominemos as ciências, não podemos abjurar os mitos (que se exprimem hodiernamente nos credos religiosos ou nas tradições populares), e tampouco poderemos exorcizar a filosofia (que resgata a dimensão holística e de sentido racional da existência). 

BIBLIOGRAFIA 

ABREU, Antônio Daniel (Editor). Mitologia chinesa (Mitologia Primitiva) - Quatro mil anos de história através das lendas e dos mitos chineses. São Paulo: Landy Editora, 2000.
CHIA CHING, Suo - SI WEI, Luo. China - Lendas e Mitos. (Adaptação literária de Margarida Finkel). São Paulo: Roswitha Kempf Editores, s/d.
COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. (Tradução de José Arthur Giannotti). 1ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção Os Pensadores.
DROZ, Geneviève. Os mitos platônicos. (Tradução de Maria Auxiliadora Ribeiro Kneipp). Brasília: Editora da Un B, 1997.
ELIADE, Mircea. Aspectos do mito. (Tradução de Manuela Torres). Lisboa: Edições 70, 1986.
ELIADE, Mircea. História das crenças e das idéias religiosas. Vol. I (Tradução de Roberto Cortes de Lacerda). Rio de Janeiro: Zahar, 1984.
ERRANDONEA, Ignacio. Diccionario del mundo clásicoBarcelona: Labor, 1954, 2 vol.
HESIODO, Teogonia - A origem dos deuses. (Introdução de Jaa Torrano). São Paulo: Massao Ohno - Roswitha Kempf Editores, 1981.
KOLAKOWSKI, Leszek. A presença do mito. Brasília: Editora da UN B, 1981.
LADRIÈRE, Jean. Éléments de critique des sciences et de cosmologie. Université de Louvain, 1967.
ROBERT - FEUILLET. Introducción a la Biblia. Vol I. (Trad. de A. Ros). Barcelona: Herder, 1965.


Questões para discutir. (Escolha a resposta válida):

1 – O Mito pode ser definido como:
·         Explicação do primordial por um acontecimento atual.
·         Explicação do futuro por um acontecimento passado.
·         Explicação do atual por um acontecimento primordial.
2 – O Mito pressupõe:
·         Uma dimensão vertical, que se ergue por sobre a horizontalidade dos fatos humanos.
·         Uma dimensão horizontal que dá sentido à dimensão vertical.
·         Uma dimensão vertical sem nenhuma relação com o horizonte dos fatos humanos.
3 – Na Mitologia Grega encontramos, no início de tudo, uma tríade integrada por:
·         Figuras monstruosas: Titãs, Ciclopes e Hecatôngiros.
·         Princípios primordiais identificados com: Apson (Águas Primordiais), Marduk (Luz) e Tiamat (Trevas).


·         Princípios primordiais identificados com: Caos (Origem de Tudo), Céu (Uranos, princípio ativo), Terra (Gaia, princípio passivo).

LEITURA 1ª - CARACTERIZAÇÃO DA FILOSOFIA EM FACE DA CIÊNCIA

O Marquês de Pombal - (Tela de Van Loo e Vernet).

Na tradição luso-brasileira, herdeira das Reformas Pombalinas (ocorridas em Portugal, na segunda metade do século XVIII), a distinção entre Filosofia e Ciência ficou confusa. Ou melhor: a Filosofia passou a ser reduzida simplesmente à Ciência Aplicada, como muito bem destacou Antônio Paim [1]. Configurou-se, assim, a corrente do “Empirismo Mitigado” [2]. Destarte, nas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, no sistema de ensino reformado por Pombal, Filosofia seria algo semelhante à Ciência Prática. Na obra de Luiz António Verney, que passou a ser a expressão mais fiel da Filosofia no Ciclo Pombalino, ficou clara essa idéia: “Eu suponho – frisava este autor - que a Filosofia é conhecer as coisas pelas suas causas; ou conhecer a verdadeira causa das coisas. Esta definição recebem os mesmos peripatéticos, ainda que eles a explicam com palavras mais obscuras. Mas, chamem-lhe como quiserem, vem a significar o mesmo, v. gr.: saber qual é a verdadeira causa que faz subir a água na seringa é Filosofia; conhecer a verdadeira causa por que a pólvora, acessa em uma mina, despedaça um grande penhasco é Filosofia; outras coisas a esta semelhantes, em que pode entrar a verdadeira notícia das causas das coisas, são Filosofia” [3]. Conseqüência: a cultura luso-brasileira mergulhou em rasteiro praticismo, que esperava da Filosofia efeitos úteis, jamais a meditação sobre o sentido do Ser. Coube a Silvestre Pinheiro Ferreira, com as suas Preleções Filosóficas (1813) fazer a crítica, no Brasil, a essa corrente e abrir as portas, assim, para uma adequada compreensão da Filosofia, que a liberasse dessa estreita visão.

Estas breves palavras introdutórias têm como finalidade mostrar a importância de compreender a Filosofia na sua distinção em face do pensamento científico. Pois se bem Silvestre Pinheiro Ferreira fez a crítica ao Empirismo Mitigado de Pombal, o espírito desta abordagem ficou presente até os dias de hoje na nossa cultura, ao abrigo da tendência Cientificista, que passou a ser adotada por muita gente, incluindo, nestas últimas décadas, os marxistas de todas as vertentes. O Positivismo de Comte, diga-se de passagem, vingou tão profundamente em terras brasileiras, em decorrência do fato de que, no nosso DNA cultural, abrigou-se desde cedo o vírus cientificista, ao ensejo do Pombalismo. É imperativo, por isso, distinguir Filosofia de Ciência. Nos seguintes pontos podemos estabelecer essa distinção [4]:

1 – Do ponto de vista do Método, Ciência e Filosofia procedem de formas diferentes. Ao passo que o método científico assinala um caminho que, partindo do menos seguro (a hipótese), encaminha-se para afirmações mais firmes, porquanto testadas na observação e na experimentação, (esse seria o momento da formulação das leis científicas), o método filosófico percorre um caminho contrário: de uma vivência profunda que revela o sentido insubstituível da existência, partem os filósofos para uma explicitação conceitual dessa vivência. Ou seja: o ponto de partida é mais claro do que o ponto de chegada, pois quando tentamos explicitar a vivência de “situações-limite”, as palavras ficam curtas. “Não tenho palavras com que expressar o que senti”, essa seria a confissão de quem pretende explicitar, na linguagem, a vivência desse tipo de situações. Filósofos e poetas irmanam-se num ponto: os seus escritos traem a inspiração original, porquanto nem um nem outro ficam satisfeitos com a explicitação da vivência original na linguagem (poética, no caso dos segundos, conceitual, no dos filósofos).

2 – A linguagem científica parte para a matematização, ao passo que a filosófica dela se afasta. Todas as ciências, mesmo as humanas, aspiram a traduzir de forma exata os seus achados; isso explica o farto uso das matemáticas na linguagem científica, seja da matemática pura, no caso das ciências exatas, seja da estatística, no caso das demais ciências. A Filosofia, ao contrário, afasta-se da matemática, em decorrência de que os seus conceitos não exprimem quantidades que possam ser traduzidas de forma exata. Seria inadequado falar, por exemplo: “essa pessoa é 60 por cento corrupta”. Como seria despropositado o fato de o namorado falar para a namorada: “te amo num 80 por cento”. Posto que a Filosofia parte de vivências profundas, e pelo fato de estas não serem matematizáveis, não procede, portanto, a linguagem filosófica como a científica e se afasta da expressão matemática dos seus achados. É claro que, ao longo da História da Filosofia, apareceram autores que tentaram estabelecer uma ponte (ou uma simbiose, no caso dos neopositivistas do Círculo de Viena) entre matemáticas e pensamento filosófico. Pitágoras pretendia que a perfeição das esferas celestes fosse traduzida pela matemática. Wittgenstein tentou estabelecer as bases de uma meta-matemática que daria alicerces ao saber científico e anularia qualquer discurso sobre hipóteses não solúveis, colocando para baixo do tapete da história a metafísica. No caso pitagórico, poderíamos argumentar que os números têm uma significação simbólica (a perfeição seria traduzida em regularidades matemáticas), sem que isso significasse que qualquer conceito filosófico tivesse de transitar pelos caminhos da matemática. No caso de Wittgenstein, ele próprio encarregou-se, na última fase da sua obra, de deitar por terra a pretensão de que só a matemática basta no terreno do conhecimento, ao colocar este em face do misticismo, um tipo de conhecimento não matematizável.

3 – Os conceitos, em Ciência, têm uma significação unívoca (do mesmo sentido), no seio de determinada disciplina (o químico sabe exatamente o que significa H2O ou H2SO4). Na Filosofia, os conceitos têm uma significação análoga, ou seja, são semelhantes na diversidade. O termo dialética, por exemplo, possui uma significação análoga, não unívoca, em Sócrates, Aristóteles, Hegel e Marx. Há uma semelhança na diferença. Para Sócrates, dialética é a arte do diálogo, ao passo que para Aristóteles é a característica marcante dos raciocínios referidos aos homens, para Hegel a forma contrária em que se manifesta o Espírito Absoluto nas suas criações culturais e em Marx é a forma de oposição em que se relacionam as forças produtivas.

4 – Toda ciência, mesmo que seja muito abstrata, possui uma parte aplicada que ajuda a transformar o mundo, ao ensejo da tecnologia (que resolve problemas). Uma ciência que não tenha nenhuma utilidade é simplesmente abandonada, como foi o caso da astrologia e da alquimia, formas “científicas” de conhecimento muito valorizadas na Antigüidade, mas que foram perdendo a sua credibilidade como ciências, na modernidade, ao não produzirem os efeitos almejados: a pedra filosofal, no caso da alquimia; a solução para o enigma da vida humana, no caso da astrologia. Podemos afirmar, em conseqüência, que a ciência, do ângulo da sua aplicabilidade, tem valor pela sua utilidade. Já a Filosofia não aspira a resolver problemas, mas encara o grande problema não solucionado pela ciência: a dimensão de sentido da existência. Ela tem um valor de per se, como algo que faz bem à nossa existência (de forma semelhante a como valorizamos uma obra de arte, pela vivência da emoção estética que nos enleva). A Filosofia, concluímos, possui utilidade pelo seu valor.

5 – É característico da Ciência a sua especialização, na medida em que se vão refinando os instrumentos de análise. Justamente essa tendência deixa ver, na contemporaneidade, a importância de uma abordagem interdisciplinar dos problemas, justamente para tentar reconstituir a totalidade dos objetos estudados. A Ciência se especializa do ponto de vista do seu objeto formal (o aspecto específico sob o qual ela estuda o seu objeto material). Já a Filosofia não parte para encarar o homem de forma parcial (do ângulo do seu objeto formal), mas o abarca como totalidade existente. A Filosofia constitui a mais radical forma de abordar uma realidade, do ângulo da sua presença no Ser. Não faria sentido, por exemplo, indagar pelo “sentido da existência da minha mão esquerda”, quando o existente sou eu na minha integralidade. A Filosofia, sob este viés, é holística, o seu método visa a reconstituir totalidades, as suas indagações pelo sentido da existência abarcam todo o homem e se estendem a todos os homens. 




[1] PAIM, Antônio (organizador). Pombal na Cultura Brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro / Associação Cultural Brasil-Portugal, 1982, p. 7-9.
[2] PAIM, Antônio. História das Idéias Filosóficas no Brasil. 3ª edição. São Paulo: Convívio; Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1984, p. 233-249.
[3] VERNEY, Luiz António. Verdadeiro método de estudar – Carta Oitava. Cit. por Paim, História das Idéias Filosóficas no Brasil, ob. cit., p. 234.
[4] Para esta caracterização tenho me alicerçado nas seguintes fontes: JASPERS, Karl, Introdução ao pensamento filosófico, (Tradução de Leônidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota), 17ª edição, São Paulo: Cultrix, 2006. MENDONÇA, Eduardo Prado de. O mundo precisa de Filosofia. São Paulo: Agir, 1963. HARTMANN, Nicolai.Autoexposición sistemática. (Estudo preliminar de Carlos Mínguez, tradução ao espanhol de Bernavé Navarro), Madrid: Tecnos, 1989. ORTEGA Y GASSET, José. “A barbárie do especialismo”. In: Humanidades, Brasília, v. 2, nº 6 (1984), p. 147-149.

Questões para discutir. (Escolha a resposta válida):

1 – A distinção entre Filosofia e Ciência ficou confusa na tradição luso-brasileira, por causa:
·         Do controle exercido pela Igreja Católica sobre o ensino.
·         Das Reformas Pombalinas, que valorizaram exageradamente a ciência aplicada.
·         Das críticas de Silvestre Pinheiro Ferreira ao Empirismo Mitigado de Pombal.
2 – Do ponto de vista do método, Ciência e Filosofia:
·         Se identificam, pois ambas respeitam as regras da Lógica Formal nos seus arrazoados.
·         Se contrapõem, pois a Filosofia não segue as regras da Lógica Formal nos seus arrazoados, ao passo que a Ciência segue essas regras.
·         Se diferenciam, pois na Ciência o método avança do menos seguro ao mais seguro, ao passo que, na Filosofia, o método vai do mais seguro ao menos seguro.
3 – Ciência e Filosofia se diferenciam, porquanto:
·         Ambas adotam a especialização de forma diferente: a Ciência, em relação à natureza; a Filosofia, em relação ao homem.
·         A Ciência adota a matematização; a Filosofia é auxiliada pelas estatísticas.
·         A Ciência tende à especialização; a Filosofia tende à generalização, abarcando todos os homens e todo o homem, na sua reflexão sobre o sentido da existência.



quarta-feira, 12 de agosto de 2015

PROGRAMA DA DISCIPLINA FILOSOFIA PARA O CURSO DE DIREITO - 2º SEMESTRE DE 2015

Poeira Cósmica na Nebulosa da Águia, a 7 mil anos-luz da Terra (Foto: Telescópio Hubble NASA, Abril de 2015)

Caros alunos, sejam bem-vindos à disciplina Filosofia. No mundo globalizado é necessário não perder de vista o conjunto da realidade, na qual se situam o ser humano e as instituições sociais. Esta disciplina visa a ajudar você a ter essa visão de conjunto, num contexto de valorização do pensamento racional, ou seja, do pensamento alicerçado em razões, não apenas em crenças ou na aceitação passiva do que os outros pensam.

EMENTA: Origens do pensamento filosófico. Conceitos na Filosofia Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea. Conceito e tarefas da Filosofia do Direito. Ética. Filosofia Política. Ética, Justiça e Direitos Humanos. Ética o Moral Social. Modelos de Moral Social vigentes no seio da Cultura Brasileira. Moral Social e Democracia.

JUSTIFICATIVA DA DISCIPLINA: o processo formativo para uma melhor compreensão do papel do futuro profissional do Direito exige o conhecimento dos fundamentos da Filosofia Ocidental. Por essa razão, trabalhar-se-á a formulação dos principais conceitos filosóficos relacionados à compreensão do ser humano, no âmbito da Filosofia Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea. Dessa forma, a contribuição dos pensadores relacionados no programa servirá de fundamento teórico para a formação ética, moral e política do futuro profissional do Direito.

OBJETIVO DA DISCIPLINA: Em primeiro lugar, busca-se, com o programa, que os alunos obtenham uma visão racional do mundo a partir da perspectiva da reflexão filosófica sobre o homem e o seu comportamento ético, relacionando estes aspectos com o Direito. Como objetivos secundários pode-se enumerar os seguintes: 1 – Desenvolver um modo de pensar lógico e reflexivo, bem como uma ação mais crítica em face da sociedade. 2 – Compreender, por meio da Filosofia, a Importância do Direito para a construção de um mundo melhor. 3 – Reconhecer os valores filosóficos que foram perpetuados desde a Antiguidade até a Contemporaneidade, no seio da Civilização Ocidental. 4 – Obter um conhecimento básico acerca dos fundamentos filosóficos do Direito. 5 – Fazer uso da teoria da dedução como instrumento de análise.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

1 – A reflexão sobre o homem e o direito na Filosofia Antiga.

·a-Mito e Logos.
·b-O pensamento dos pré-socráticos sobre o homem e o cosmo.
·c-Os sofistas e a sua reflexão sobre o homem.
·d-A correção de rumo na filosofia grega clássica: o homem, animal político. A ética grega. Sócrates, Platão e Aristóteles. A concepção aristotélica da sociedade, do direito e da constituição da pólis (=cidade).
·e-O pensamento sobre o homem nas várias correntes da filosofia helenística (neoplatonismo, estoicismo, epicurismo, ceticismo).
·f-A repercussão das correntes helenísticas na cultura latina e os desdobramentos no direito romano.

2 – A reflexão sobre o homem e o direito na Filosofia Medieval.

·a-Santo Agostinho e os primórdios da Filosofia Medieval. A perspectiva da razão no contexto da salvação. A evangelização dos bárbaros: prioridade para a Igreja Medieval.
·b-A Escolástica e a formalização da noção de Pessoa Humana, na reflexão de Santo Tomás de Aquino. Concepção do Direito (jusnaturalismo) num contexto teológico. A herança medieval na temática da dignidade da pessoa humana.
·c-O Jusnaturalismo medieval. Aspectos essenciais.

3 – A reflexão sobre o homem e o direito na Filosofia Moderna.

·a-Os pensadores renascentistas e a conquista do cosmo e do mundo (Galileu Galilei, Giordano Bruno, Leonardo da Vinci, Leão Hebreu, Maquiavel).
·b-O papel dominante da razão nas filosofias dos séculos XVII e XVIII (Descartes, Locke, Leibniz, Espinosa, Hobbes, Hume, Rousseau e Kant). A dimensão absolutista e revolucionária do Iluminismo ao longo desses dois séculos.
·c-O fenômeno do cientificismo e o seu impacto nas filosofias do século XIX: Saint-Simon, Comte, Durkheim, Marx, Nietzsche. O historicismo de Hegel e a sua reformulação da perspectiva transcendental. As críticas de Marx e Nietzsche à filosofia alemã.
·d-Características fundamentais do jusnaturalismo na idade moderna: Hugo Grotius e Samuel Pufendorf.

4 – A reflexão sobre o homem na Filosofia Contemporânea.

·a-A crise da Belle Époque e o pessimismo da filosofia.
·b-A aproximação entre ciência e vida na fenomenologia de Husserl.
·c-A filosofia dos valores de Max Scheler.
·d-Os existencialismos de Heidegger e Sartre e a questão da liberdade.
·e-As filosofias da esperança (Louis Lavelle) e da pessoa (Emmanuel Mounier), na tentativa de superar o pessimismo antropológico do século XX. A filosofia dos valores no contexto do pensamento de Carol Wojtyla (Papa João Paulo II).
·f-A crise ensejada pelos totalitarismos nazista e comunista e a crítica filosófica desses modelos.
·g-As filosofias que resgatam a vida concreta, a ética dialógica e o intranscendente: raciovitalismo espanhol (Ortega y Gasset), pragmatismo transcendental (Habermas) e filosofia do efêmero (Lipovetski).
·h-Evolução filosófica da reflexão sobre o direito: a ênfase na perspectiva do social, do individual e dos direitos humanos.

AVALIAÇÃO: De acordo com as datas do calendário acadêmico.

AUXÍLIO DIDÁTICO NA INTERNET: Os alunos encontrarão no Blog do professor: 
http://arthurthomasfil-direito.blogspot.com.br/
farto material introdutório ao pensamento dos vários autores que serão estudados, bem como alguns ensaios sobre os temas que serão desenvolvidos em sala de aula. No primeiro dos blogs apontados, aparece o programa da disciplina. Serão muito bem vindas sugestões efetivadas nos blogs por parte dos alunos, com vistas a incluir novos temas ou a aperfeiçoar  aspectos didáticos.

PROGRAMAÇÃO DE ATIVIDADES

1.Apresentação do Programa.
2.Diferenças entre Filosofia, Ciência, Literatura e Senso Comum.
3.Surgimento dos conceitos filosóficos a partir dos mitos.
4.A primeira conceituação sobre a natureza, efetivada pelos Pré-Socráticos.
5.A Filosofia como ciência do homem para os Sofistas. A crítica de Sócrates à sofística.
6.A crítica de Platão à sofística. O seu conceito de educação do cidadão (Paidéia).
7.A política de Aristóteles no contexto da globalização de Alexandre o Grande. 
8.As Filosofias Helenísticas (estoicismo, epicurismo, neoplatonismo e ceticismo).
9.O Despotismo Hidráulico e a sua influência na Cultura Antiga. Presença do Despotismo Hidráulico no Patrimonialismo. 
10.AVALIAÇÃO.
11.Santo Agostinho e as bases do pensamento medieval.
12 -A Escolástica e a formulação da noção de Pessoa.
O Jusnaturalismo medieval e a sua herança na modernidade.
13.Os pensadores renascentistas, a conquista do Cosmo e da liberdade individual em face da herança medieval.Galileu e Maquiavel: dois exemplos de pensamento renascentista.
14.O papel da razão no Iluminismo: Descartes, Espinosa, Leibniz.
15.O papel da razão no Iluminismo: Locke, Hume, Kant, Hegel.
16.O clima do cientificismo no século XIX e a sua manifestação no pensamento de Saint-Simon e Karl Marx.
17A Filosofia como Problema no mundo atual. A dimensão do problema ético.
18.Ciência e política na contemporaneidade. As decorrências para a prática do Direito. 
19. A teoria tridimensional do Direito segundo Miguel Reale e a reflexão contemporânea sobre o Direito no Brasil. 
20AVALIAÇÃO.

BIBLIOGRAFIA:

ARENDT, Hannah. The origins of TotalitarianismNew York: Harvest / HBJ, 1979.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2003.
BARROS, Roque Spencer Maciel de. O fenômeno totalitário. São Paulo: EDUSP / Belo Horizonte: Itatiaia, 1990.
BOBBIO, Norberto. O Positivismo jurídico. Lições de filosofia do direito. São Paulo: Ícone, 1999.
CAMPANELLA, Tomas. A cidade do sol. (Trad. A. Lôbo). São Paulo: Abril Cultural, 1974.
CRETELLA JR. José. Novíssima história da filosofia. 4ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 1989.
DESCARTES, René. Discurso do método. Regras para a direção do espírito. São Paulo: Martin Claret, 2003.
HABERMAS, Jürgen. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983.
HOBBES, Thomas. Leviatán: o la manera, forma y poder de uma República eclesiástica y civil. (Trad. de M. Sánchez Sarto).  México: Fondo de Cultura Económica, 1940.
JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. 17ª edição. (Tradução de L. Hegenberg e O. Silveira da Mota). São Paulo: Cultrix, 2006.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Martin Claret, 2003.
LENINE, Vladimir Illich Ulianov. O Estado e a revolução.  Rio de Janeiro: Lobo Mau, 1982.
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. São Paulo: Martin Claret, 2003.
Maquiavel, Nicola. O Príncipe.  São Paulo: Martin Claret, 2003.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Dos pré-socráticos a Wittgenstein. São Paulo: Martin Claret, 2003.
NIETZSCHE, Friedrich. Para além do bem e do mal. Prelúdio a uma filosofia do futuro. São Paulo: Martin Claret, 2003.
PAIM, Antônio. A querela do estatismo. 1ª edição. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1978.
PAIM, Antônio. História das idéias filosóficas no Brasil. 3ª edição revista e ampliada. São Paulo: Convívio; Brasília: Instituto Nacional do Livro / Fundação Pro-Memória, 1984.
PAIM, Antônio. O liberalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995.
PROTA, Leonardo. As filosofias nacionais e a questão da universalidade da filosofia. Londrina: Editora da UEL, 2000.
REALE, Giovanni. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 1990, 3 volumes.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Textos filosóficos. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na América. (Trad. de N. Ribeiro da Silva). 2ª edição. Belo Horizonte: Itatiaia. 1977.
TOCQUEVILLE, Alexis de. O Antigo Regime e a revolução.  (Trad. de Y. Jean). 3ª edição. Brasília: Universidade de Brasília; São Paulo: Hucitec, 1989.
VÁRIOS AUTORES. Logos – Enciclopédia luso-brasileira de filosofia. Lisboa: Editorial Verbo, 1989-1992. 5 volumes.
VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. Tópicos especiais de filosofia contemporânea. Londrina: Editora da UEL, 2001.
VÉLEZ-RODRÍGUEZ, Ricardo. Tópicos especiais de filosofia moderna. Juiz de Fora: Editora da UFJF; Londrina: Editora da UEL, 1995.

PROFESSOR DA DISCIPLINA
Ricardo Vélez-Rodríguez,
Curriculum Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1381097733139496