terça-feira, 22 de julho de 2014

Leitura 2ª - MITO E LOGOS - OS PRIMÓRDIOS DO PENSAMENTO RACIONAL



Ilha de Creta, berço de rica tradição mitológica. [WIKIPÉDIA].

O mito pode ser definido como uma explicação do atual por um acontecimento primordial que está sempre presente, havendo um liame, através do rito, entre o atual e o primordial.

Em decorrência do fato de o mito se referir a um acontecimento primordial para explicar o atual, situa-se num espaço e num tempo sagrados, que conferem validade ao espaço e tempo profanos, constitutivos da cotidianidade. Dessa forma, o mito pressupõe uma dimensão vertical, que se ergue por sobre a horizontalidade dos fatos humanos. O mito explica o tempo e o espaço cotidianos pelo espaço e tempo sagrados. Daí que na linguagem mítica os relatos comecem, geralmente, com a seguinte expressão: “Naquele tempo...”, (“in illo tempore...”).

O mito é um modelo. É o ponto de referência de toda atividade e de toda eficácia. Pelo fato de o mito, através do rito, estabelecer um liame entre o atual e o primordial, possui uma dimensão mágica, ou seja, produz resultados. O rito não é apenas uma encenação, uma repetição. É uma ação eficaz. Produz resultados, como dizem os teólogos “ex opere operato”, ou seja, imediatamente. As mesmas palavras que moldaram o Universo são utilizadas nos ritos de fecundidade. Os ritos de orientação repetem essa mesma dinâmica, ou seja, trazem para a cotidianidade humana os atos arquetípicos de fundação do mundo e de estabelecimento dos pontos cardeais. O mundo é considerado como emergindo de um caos e de um espaço não organizado. Os ritos que lembram a fundação da cidade (como, por exemplo, os que se referiam à fundação de Roma), referem-se, analogamente, à formação do cosmo. A cidade é um microcosmo, imita o mundo.

Precisamos distinguir dois tipos de mito: cosmogônicos e de origem. Os primeiros referem-se à organização primeira do Universo. Os segundos tentam explicar o início de uma instituição ou de um costume. Exemplo dos primeiros é o poema mesopotâmico Enuma Elish, que relata a formação do mundo, a partir das águas primordiais. Exemplo dos segundos é o mito da fundação de Roma por Rômulo e Remo, depois de terem sido salvos e amamentados por uma loba.

Centremos a atenção nos mitos cosmogônicos. Em que pese a sua diversidade, encontramos neles uma estrutura semelhante: são triâdicos. Do ponto de partida unitário e original, emergem dois princípios que se contrapõem, sendo um deles masculino e ativo e o outro feminino e passivo. A contraposição desses elementos secundários repete-se em todos os seres do cosmo, sendo que todos eles tendem à busca da unidade perdida. 

Na cultura indiana encontramos três relatos cosmogônicos desse feitio. Na tradição dos Vedas, por exemplo, tudo provém de Purusha (o homem côsmico), de onde emergem o Céu e a Terra, a partir dos quais se formam todos os seres. Na tradição dos Brâmanes, por sua vez, tudo decorre de um princípio único, as Águas Primordiais, de onde surgem o Ovo Côsmico e Prajápati, sendo que desses dois elementos é feito o mundo. Já na tradição dos Upanishads encontramos uma origem de tudo, Rajas (elemento ativo), de onde provém Sattva (elemento luminoso) e Tamas (elemento escuro), princípios a partir dos quais se forma o cosmo.

Na cultura chinesa encontramos uma unidade originária, Pan-Kou ou Pan-Gou (o homem primordial), de onde surgem Yang (princípio ativo e masculino) e Yin (princípio passivo e feminino), a partir dos quais se forma o mundo, sendo que em todos os seres há um princípio ativo e um princípio passivo. Uma estrutura mítica semelhante encontramos na cultura mesopotâmica, no relato do Enuma Elish (que era recitado pelos sacerdotes no Ano Novo) e segundo o qual tudo provém de uma origem única, Apson (as águas primordiais), de onde surgiram dois princípios contrapostos, Marduk (a luz) e Tiamat (as trevas), que travam um combate no qual Marduk vence Tiamat e o divide em dois, formando com uma metade a abóbada celeste e com a outra a terra. Essa estrutura mitológica foi o quadro de referência do mito da criação que aparece no livro do Gênese, na Bíblia judaico-cristã, no relato cunhado à luz da Tradição Sacerdotal, que recolheu a influência mesopotâmica durante o Cativeiro da Babilônia. Efetivamente, nessa narrativa bíblica o Caos primordial antecede a tudo, sendo que o Ruaj de Elohim (o sopro de Deus) paira sobre o Abismo e o organiza, criando em primeiro lugar a luz, colocando a seguir no cosmo astros e estrelas, separando logo as águas inferiores das superiores, fazendo surgir das águas inferiores a terra e colocando nela, por último, pedras, vegetais, animais e homens. No livro do Gênese, aliás, encontramos um relato da criação do cosmo mais arcaico do que o mencionado: trata-se da narrativa configurada à luz da Tradição Yahvista, segundo a qual do Lodo primordial Yahvé formou o homem, soprando no seu nariz o seu Sopro de Vida e fazendo-o, assim, à sua imagem e semelhança. 

Na cultura grega encontramos, por sua vez, uma origem primordial de tudo, o Caos, de onde surgem o Céu (Uranos), princípio ativo, luminoso e masculino, e a Terra (Gaia), princípio passivo, escuro e feminino. Ora, a partir de Uranos e Gaia forma-se primeiro o cosmo e depois o homem. Da luta entre Uranos e Gaia surge uma primeira geração de figuras mitológicas monstruosas (Titãs, Ciclopes e Hecatôngiros), que simbolizam as forças cegas da natureza. O homem é formado a partir da união entre Chronos (um dos Titãs, portanto filho de Uranos) e Rhea, filha do Caos. A vida humana é simbolizada como uma luta que o homem deve travar entre a consciência (representada por Zeus) e as tendências instintivas e inconscientes (simbolizadas nos irmãos de Zeus: Poseidon – satisfação perversa do desejo -, Hades – inibição perversa do desejo -, Hestia – pureza que despreza a libido -, Demeter – instinto da fecundidade – e Hera – símbolo do amor e da libido).

O relato mítico grego foi legado à posteridade através da obra de Hesíodo intitulada A Teogonia. A natureza é apresentada ali como manifestação progressiva dela mesma, através de uma série de etapas. Trata-se de uma revelação com caráter óntico, porquanto a natureza se revela em várias ordens de ser. Mas, de outro lado, há certa organicidade nesse se revelar a natureza, pois cada grau dela está implicado no anterior. 

A respeito, frisa Jean Ladrière comentando os aspectos fundamentais do mito cosmogônico grego: “Há um sentido ontológico, pois essa sucessão de níveis deve ser interpretada como um encaixar os fundamentos. Cada etapa, efetivamente, permanece no interior das etapas ulteriores. O que significa que cada dobra da realidade continua exercendo a sua virtude no interior das dobras subsequentes. Isso significa, ainda, de um ponto de vista mais abstrato, que cada uma dessas dobras da realidade representa verdadeiramente uma condição da realidade global. A sucessão significa que cada etapa permanece presente no interior das seguintes, que cada etapa é condição para as ulteriores. Temos, assim, um encadeamento de condições, ou ainda um encadeamento de fundamentos. De outro lado, todo esse processo se origina no Caos. Este não é uma simples desordem, nem uma mistura primordial. É, pelo contrário, o pano de fundo em que tudo aparece. É a unidade que abarca e sustenta tudo. Além disso, a formação do mundo é explicada por uma oposição de princípios contrários. Temos um princípio ativo e um princípio passivo, um princípio celeste e um princípio terrestre. O Céu é o espaço concebido como receptáculo universal. Ao mesmo tempo, é o elemento luminoso, formador, legislador, o elemento que é princípio de ordem. A Terra ou Gaia, de outro lado, é uma potência de desordem, é um princípio de opacidade, é aquilo que opõe resistência à difusão da forma, é o que em virtude dessa resistência explica a limitação e a divisão. A união do Céu e da Terra enseja o processo gerador. Dessa forma, o movimento fundamental da realidade é o encontro dos dois elementos, Terra e Céu. Esse encontro é ao mesmo tempo luta, oposição e complementariedade” [Ladrière, 1967].

O mérito dos pré-socráticos consistiu em terem traduzido as imagens do mito cosmogônico grego em conceitos. Mas essa tradução não foi instantânea. Primeiro começaram a falar em elementos de que tudo se constituía. Uns enfatizam a água, outros o fogo, outros a terra, outros o ar. Mas o que lhes interessa é ir traduzindo as imagens em algo que não deixa de ser imagem, mas que, ao mesmo tempo, diz algo mais. Quando Tales de Mileto, por exemplo, diz que o constitutivo de tudo á água, não se refere exclusivamente ao elemento físico, mas quer se remontar até o princípio de onde tudo provém. É por isso que Nietzsche considera que Tales é o primeiro metafísico, porque buscava enxergar a origem última dos seres, aquilo que seria a conditio sine qua non de tudo. Embora fosse também um físico, preocupado com a análise experimental dos elementos.

Mas é no mito onde a metafísica grega, já mais evoluída após o ciclo pré-socrático, vai encontrar a inspiração para a estrutura conceitual com que tenta representar a realidade. A imagem do Caos será substituída na metafísica aristotélica pelo conceito de Ser, ao passo que Uranos será traduzido como Ato e Gaia como Potência. Temos, assim, os elementos fundantes da metafísica da potência e do ato, que servirá de base conceitual à filosofia ocidental até o início do período moderno.

Augusto Comte tinha formulado a Lei dos Três Estados, segundo a qual a razão humana percorre três etapas ao longo da sua evolução, tanto do ponto de vista da ontogênese (nos indivíduos), como da filogênese (na espécie). Ora, segundo esse postulado, tanto o homem individual quanto a espécie humana primeiro representaram e explicaram o mundo teologicamente ou seja em imagens míticas, e somente depois foram capazes de pensar de maneira filosófica ou metafisicamente, para, por último e como fruto da evolução progressiva da razão, chegarem a elaborar explicações positivas ou científicas, que constituiriam a mais perfeita e definitiva forma de conhecimento, que dispensaria as outras duas.

A explicação de Comte tem uma parte verdadeira e outra falsa. A verdadeira consiste em ter reconhecido três formas de conhecimento intimamente ligadas entre si, a mítica, a metafísica e a científica. A parte falsa consiste em ter formulado essas três modalidades como se excluindo temporalmente, pensando que a metafísica excluiria o mito e que a ciência excluiria as outras formas de conhecimento que lhe possibilitaram o surgimento. Trata-se, pois, de recuperar a validade da teoria comteana, inserindo as três formas de conhecimento num quadro de complementariedade. Afinal mito, metafísica e ciência, são três formas de conhecimento que se completam, se pressupõem e não podem se invalidar mutuamente. Cada uma delas fornece um tipo de conhecimento qualitativamente diferente. Mesmo que dominemos as ciências, não podemos abjurar os mitos (que se exprimem hodiernamente nos credos religiosos ou nas tradições populares), e tampouco poderemos exorcizar a filosofia (que resgata a dimensão holística e de sentido racional da existência).

BIBLIOGRAFIA

ABREU, Antônio Daniel (Editor). Mitologia chinesa (Mitologia Primitiva) - Quatro mil anos de história através das lendas e dos mitos chineses. São Paulo: Landy Editora, 2000.

CHIA CHING, Suo - SI WEI, Luo. China - Lendas e Mitos. (Adaptação literária de Margarida Finkel). São Paulo: Roswitha Kempf Editores, s/d.

COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. (Tradução de José Arthur Giannotti). 1ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção Os Pensadores.

DROZ, Geneviève. Os mitos platônicos. (Tradução de Maria Auxiliadora Ribeiro Kneipp). Brasília: Editora da Un B, 1997.

ELIADE, Mircea. Aspectos do mito. (Tradução de Manuela Torres). Lisboa: Edições 70, 1986.

ELIADE, Mircea. História das crenças e das idéias religiosas. Vol. I (Tradução de Roberto Cortes de Lacerda). Rio de Janeiro: Zahar, 1984.

ERRANDONEA, Ignacio. Diccionario del mundo clásicoBarcelona: Labor, 1954, 2 vol.

HESIODO, Teogonia - A origem dos deuses. (Introdução de Jaa Torrano). São Paulo: Massao Ohno - Roswitha Kempf Editores, 1981.

KOLAKOWSKI, Leszek. A presença do mito. Brasília: Editora da UN B, 1981.

LADRIÈRE, Jean. Éléments de critique des sciences et de cosmologie. Université de Louvain, 1967.

ROBERT - FEUILLET. Introducción a la Biblia. Vol I. (Trad. de A. Ros). Barcelona: Herder, 1965.

Questões para discutir. (Escolha a resposta válida):

1 – O Mito pode ser definido como:
·   Explicação do primordial por um acontecimento atual.
·   Explicação do futuro por um acontecimento passado.
·   Explicação do atual por um acontecimento primordial.

2 – O Mito pressupõe:
·  Uma dimensão vertical, que se ergue por sobre a horizontalidade dos fatos humanos.
·   Uma dimensão horizontal que dá sentido à dimensão vertical.
·  Uma dimensão vertical sem nenhuma relação com o horizonte dos fatos humanos.

3 – Na Mitologia Grega encontramos, no início de tudo, uma tríade integrada por:
·   Figuras monstruosas: Titãs, Ciclopes e Hecatôngiros.
· Princípios primordiais identificados com: Apson (Águas Primordiais), Marduk (Luz) e Tiamat (Trevas).
· Princípios primordiais identificados com: Caos (Origem de Tudo), Céu (Uranos, princípio ativo), Terra (Gaia, princípio passivo).

 TÓPICOS DA EXPOSIÇÃO DO PROFESSOR

 Mito e Logos


Os primórdios do pensamento racional

O que é o Mito?

Uma explicação do atual

Por um acontecimento primordial

Que está sempre presente

Havendo um liame, através do rito, entre o atual e o primordial

Estrutura do Mito

Situa-se num espaço e num tempo sagrados.

Mediante estes, confere validade ao espaço e ao tempo profanos, constitutivos da cotidianidade.

Pressupõe uma dimensão vertical, que se ergue sobre a horizontalidade dos fatos humanos.

Expressa-se mediante a expressão: “Naquele tempo (“In illo tempore”...).

Características de funcionamento do Mito

Constitui um modelo, sendo o ponto de referência de toda atividade e de toda eficácia.

É uma ação eficaz que produz resultados “Ex opere operato” (de forma imediata ou mágica).

As mesmas palavras que moldaram o Universo são utilizadas nos ritos de fecundidade.

Os ritos de orientação trazem para a cotidianidade humana, na fundação da cidade, os atos primordiais de arrumação do Cosmo.

Dois tipos de Mitos

Cosmogônicos: referem-se à organização primeira do Universo. Exemplo: poema mesopotâmico “Enuma Elish”.

De origem: explicam uma instituição ou um costume. Exemplo: mito da fundação de Roma por Rômulo e Remo, que foram amamentados por uma loba.

Estrutura dos Mitos Cosmogônicos

São triâdicos: do ponto de partida unitário e original, emergem dois princípios que se contrapõem, sendo um deles masculino e ativo e o outro feminino e passivo.

A contraposição desses dois princípios repete-se em todos os seres do Cosmo, que buscam o retorno à unidade primordial. 

Mitos cosmogônicos indianos

Tradição dos Vedas.

Tradição dos Brâmanes.

Tradição dos Upanishads.

Tradição dos Vedas

Tudo provém de Purusha (O Homem Cósmico).

De Purusha emergem o Céu e a Terra.

A partir deles se formam todos os seres do Cosmo.

Tradição dos Brâmanes

Tudo provém das Águas Primordiais.

Daí surgem o Ovo Cósmico e Prajápati.

Destes dois elementos, que se contrapõem, é feito o mundo.

Tradição dos Upanishads

Origem de tudo: Rajas, que constitui uma energia primordial ou elemento ativo.

Daí surgem Sattva (elemento luminoso) e Tamas (elemento escuro).

Destes princípios se forma o Cosmo.

Mito cosmogônico chinês

Tudo provém de uma unidade originária, Pan-Kou ou Pan-Gou (o Homem Primordial).

Daí surgem Yang (princípio ativo e masculino) e Yin (princípio passivo e feminino).

Destes princípios se forma o mundo, sendo que em todos os seres há um princípio ativo e outro passivo.

Mito cosmogônico mesopotâmico

Segundo o Enuma Elish (relato sagrado recitado pelos sacerdotes no Ano Novo), tudo provém de Apson (as Águas Primordiais).

Daí surgiram dois princípios contrapostos: Marduk (a Luz) e Tiamat (as Trevas).

Num combate primordial Marduk vence Tiamat e o divide em dois, formando com uma parte a abóbada celeste e com a outra a terra.

1º Mito da criação no livro bíblico Gênese

Nessa narrativa da chamada Tradição Sacerdotal [Gen. 1, 1-31; 2, 1-3], o Caos Primordial antecede a tudo. Essa Tradição surgiu durante o “Cativeiro da Babilônia” (586-539 a.C.), a partir da conquista do Reino de Judá por Nabucodonosor.

O Ruaj de Elohim (Sopro de Deus) paira sobre o Abismo e o organiza.

São criados, em primeiro lugar, a Luz e, logo, os Astros, as Estrelas, as Águas Superiores e as Inferiores, fazendo surgir destas a terra, e colocando nela pedras, vegetais, animais e homens.  

2º Mito da criação no livro bíblico Gênese

Na narrativa da chamada Tradição Yahvista [Gen. 2, 4-25], do Lodo Primordial Yahvé formou o homem, assim:

O Sopro de Yahvé insuflou vida nas narinas de um Boneco de Barro.

Daí surgiu toda a Humanidade. 

Mito cosmogônico grego

A origem primordial de tudo é o Caos.

Daí surgem o Céu (Uranos, princípio ativo, luminoso e masculino) e a Terra (Gaia, princípio passivo, escuro e feminino).

Da luta entre Uranos e Gaia surge uma primeira geração de figuras monstruosas (Titãs, Ciclopes e Hecatôngiros) que simbolizam as forças cegas da natureza. O Homem é formado a partir da união do Titã Chronos (o Tempo) e Rhea (filha do Caos).

O universo humano na mitologia grega

A vida humana é simbolizada como uma luta que o homem trava entre a consciência (representada por Zeus) e as tendências inconscientes simbolizadas nos irmãos de Zeus: Poseidon (satisfação perversa do desejo), Hades (inibição perversa do desejo), Hestia (pureza que despreza a libido), Demeter (instinto da fecundidade) e Hera (símbolo do amor e da libido).
 O relato mítico grego foi legado à posteridade por Hesíodo na sua obra Teogonia.

O Mito nas origens da Filosofia, nos pre-socráticos

Eles traduziram as imagens do mito cosmogônico em conceitos.

As origens primordiais do Cosmo foram pensadas como os quatro elementos: água, ar, terra, fogo.

Interessava aos pre-socráticos traduzir as imagens dos mitos em algo que não deixa de ser imagem, mas que é apreendido, também, como conceito. Quando Tales de Mileto (624 a.C-558 a.C.) dizia que o constitutivo de tudo é água, não se referia exclusivamente ao elemento físico, mas se remontava, ao mesmo tempo, até o princípio único (metafísico) de onde tudo provém.

A lei dos três estados de Augusto Comte

Comte formulou, no Curso de Filosofia Positiva (1848), a Lei dos Três Estados: a razão percorre três etapas  sucessivas e excludentes: Mito, Metafísica e Ciência.

Essas três modalidades de conhecimento não são excludentes, mas complementares: mesmo que dominemos a ciência, não podemos excluir nem os mitos (em que ancoram as nossas crenças e valores fundamentais), nem a filosofia (em que se alicerçam as nossas convicções básicas).

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